7 de agosto de 2014

SETE DIAS NO VALE - Del Lima Jr.


Olá,
Semana passada, entre os dias 27 de Julho e 03 de Agosto, eu estive participando do Festival Internacional de Inverno da UFSM que é realizado no distrito de Vale Vêneto, localizado a 40 km de Santa Maria/RS. O festival em Vale Vêneto é diferente, pois é realizado num cenário intimista, acolhedor e de uma beleza singular, enfim... Como agora estou escrevendo um livro, meu desejo e percepção para transmutar experiências e ideias em palavras, é latente. Assim, esses dias no vale me serviram de forte inspiração para escrever este singelo texto de palavras sinceras.
Obrigado a todas as pessoas que tornaram minha experiência em Vale Vêneto inesquecível. Obrigado aos velhos e novos amigos, pelas palavras trocadas e pelo tempo compartilhado. Vou ser grato e levá-los para toda a vida.

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SETE DIAS NO VALEDel Lima Jr.

No início eram apenas expectativas, no meio, experiências, no fim, apenas lembranças e o ardente desejo de que em breve, tudo recomece! 

Lembro-me com clareza a primeira vez que fui ao simpático distrito de Vale Vêneto, em 2010, para tocar na abertura do Festival de Inverno com a Orquestra de Sopros da UFSM; saltou-me aos olhos o lindo e pequenino vilarejo de pouca interferência arquitetônica envolto de um deslumbrante adorno natural de verdes colinas, porém, foi apenas em 2012 que participei efetivamente do festival, e durante sete dias, muitas coisas acontecem, muitas experiências que aos poucos vão sendo esculpidas em nossas vidas, vão sutilmente enriquecendo nosso catálogo de lembranças; o conhecimento oriundo dos professores se transformam em novas perspectivas, e totais desconhecidos, transmutam-se em amigos que podem ser para uma vida inteira, e isso, é totalmente imprevisível. 

Acabo de chegar da minha terceira participação no Festival de Inverno da UFSM e confesso que esta, foi a melhor edição em que participei, a começar pela oficina de flauta que ficou a cargo da orientação do excelente e competentíssimo professor Eduardo Monteiro (UFRJ), com lições que foram contextualizadas de tal forma, que os conceitos que precedem a prática, cristalizaram-se no mais lúcido entendimento sobre o assunto abordado, sem contar a generosidade e  a paciência com que procurou lapidar a técnica e a concepção do estudo diário, em busca de uma execução primorosa e livre de tensões... Em um determinado dia, durante o café da manhã, um colega de outro instrumento me perguntou o que eu estava achando da oficina de flauta, sem titubear respondi: Muita boa!!! E acrescentei, “A qualidade da oficina é proporcional à maturidade musical”; nesse momento me veio à lucidez, de que se há alguma maturidade musical em mim, devo agradecer muito ao meu professor de flauta da UFSM, prof. Dr. Alexandre Eisenberg, que generosamente tem contribuído em minha formação flautístico/musical.

Foram sete dias, e em todas as noites, o preludio à apneia do sono fez-se ecoar por todo o alojamento masculino. Havia diferentes timbres, tessituras e durações, mas a textura camerística dos roncos foi uma inevitável e fatídica experiência antes de se obter êxito, no relaxante e escasso período de sono que separava o fervor do bar, do acalentado café da manhã.


No vale, o gélido ar que respiramos é veementemente acrescido de muita música; a frequência com que se fala sobre as peripécias do universo musical é tão forte e natural, que o vale passa a ser um mundo paralelo da nossa realidade, pois tirando as diárias e retrogradas canções italianas que ecoam vale afora, não existem intervenções urbanas “tradicionais” como shoppings, praças, carrinhos de churros ou pipoca pelas esquinas ou prédios e mais prédios ao nosso redor; tudo que temos são construções emblemáticas de uma pequena vila histórica, onde os nativos se conhecem e frequentam os mesmos lugares diariamente. É um lugar lindo, que durante o festival, com a intensidade da programação pedagógica e artística, somada a diversidade geográfica e cultural das pessoas, faz com que tudo fique ainda mais frenético, imprevisível e memorável.


Foram dias intensos, dos quais busquei aprender em todos os momentos, e com todos com quem tive o privilégio de dialogar; foram momentos esporádicos, porém valiosos. Aqui, lhe peço licença para ressaltar rapidamente algo que realmente me chamou a atenção! Nossas necessidades sempre estavam sendo supridas, talvez não na velocidade com a que queríamos, mas em nenhum dia houve falha no serviço de alimentação, quiçá a higienização dos toaletes. É difícil classificar a qualidade de um serviço tão complexo quanto às necessidades básicas, ainda mais quando há muita exigência e pouca colaboração; aos protagonistas deste árduo serviço, personas quase fantasmas em meio a tantos, elevo este diminuto paragrafo num gesto humilde, de agradecimento.


No vale, os dias passam depressa para alguns, passam com lentidão para outros, mas não passa em branco para ninguém, pois o vale tem o poder de catalisar novas amizades, bem como avivar, fortalecer e até mesmo expandir as velhas amizades; no vale prevalece o contato direto, os locais para encontros e entretenimentos são limitados, na verdade tem apenas um, o ‘tradicional’ Bar da Romilda, já as possibilidades, a diversão e as histórias, adentram e perpetuam-se nossas vidas afora.


Como já disse, os dias no vale passam rápidos, também não é para menos, talvez seja como diz o ditado: “Tudo que é bom, dura pouco”. Todos os dias vivemos a mesma rotina, o mesmo ritual, mas nunca a mesma experiência; nunca são as mesmas perspectivas. São sete dias de frenética interação, de entrega ao novo, de quebra de preconceitos, quebra de paradigmas, de evolução, revolução, expansão, de fortalecimento, de nascimento, de alegrias, tristezas, surpresas, encanto, flertes, cobiça, pecados, contemplações, network, canjas, drinks, improviso, palavras ao vento, risos, reflexões profundas na mesa de um bar, gentilezas, imprudências, superação, gratidão.
Tudo isso em sete dias, ou em apenas um dia, uma noite... A imprevisibilidade e a magia do vale acontecem tão rápido que não dá tempo de compartilhar em alguma rede social, pois a falta de sinal é o sinal, de que tudo no vale será vivido, e compartilhado só depois de sete dias.

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Muito obrigado por você ter dedicado um bocado do seu tempo comigo!
Um caloroso abraço fraternal,
Del Lima Jr.


OMNE EST VALIDUM
OMNE EST IN VOBIS
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